segunda-feira, 16 de junho de 2014

O Japão de Quentin Tarantino

A cultura japonesa vem exercendo enorme influência no cinema ocidental, principalmente nas últimas duas décadas. Filmes como ''O Grito'', de Takashi Shimizu, e ''O Chamado'', inspirada na obra de Hideo Nakata, conquistaram enormes plateias e redesenharam o gênero de Terror nos Estados Unidos. Outras grandes produções como ''Godzilla'', ''Star Wars'', ''Sete Homens e um Destino'' e até mesmo animações como ''Vida de Inseto'' têm em suas bases, um dedo oriental. 
Mas estes são assuntos para outra postagem. Hoje a bola da vez é Quentin Tarantino e sua obsessão pela cultura japonesa.

Quentin Tarantino
Poucos diretores do cinema mundial tem uma filmografia tão conceituada como Tarantino. Seus filmes são enormes coleções de referências à cultura pop, westerns, quadrinhos, cinemas franceses, italianos e japoneses, etc.
Nascido em Knoxville, em 1963, Tarantino sempre foi grande fã de mangás e quadrinhos, e um de seus heróis de infância foi o ator chinês Bruce Lee.
Sua predileção pela cultura oriental como diretor apareceu singelamente pela primeira vez em ''Pulp Fiction'', de 1994. Em uma das cenas, a personagem Mia, contracenada por Uma Thurman, narra sua decepção ao não ser aprovada para uma série de televisão, série esta que tem como enredo a história do filme ''Kill Bill'', filmado anos depois e com a própria atriz como a protagonista. E em outra cena o personagem de Bruce Willis, Butch, mata seu algoz com uma espada tipicamente oriental.


Butch e a espada samurai
''Kill Bill'' é sem dúvida sua grande homenagem aos filmes japoneses, à começar pelo macacão amarelo de personagem de Uma Thurman, no Vol. 1, ressuscitado do filme ''Jogo da Morte'', estrelado por Bruce Lee em 1979.  
Bruce Lee é certamente o grande homenageado do longa. ''Jogo da Morte'' foi o último trabalho do ator, que faleceu durante as filmagens. As coreografias do filme tem referências diretas a diversas cenas de luta de seus filmes. Uma das mais claras é a noiva cercada por mafiosos igual ao astro chinês em um dojo no lfilme ''Dragão Chinês'', de 1971. 


O icônico macacão amarelo
Os mafiosos da gangue dos Crazy 88 de "Kill Bill Vol. 1" usam máscaras de Kato, personagem de Bruce Lee na série "O Besouro Verde'', de 1966. E a estética da cena de "Samurai Fiction" (1998), no Vol. 1 é a mesma de quando a Noiva enfrenta os mafiosos da gangue. E o treino da protagonista com o mestre Pai Mei no segundo filme da saga também usa o mesmo efeito de contraste de luz e sombra de "Samurai Fiction".

Um dos destaques de "Kill Bill Vol. 2", Pai Mei é o arquétipo exagerado do mestre sábio e poderoso de artes marciais, em uma versão arrogante e sociopata. O personagem era recorrente nos anos 1970, aparecendo em filmes como "Carrascos de Shaolin" e se tornando ainda mais sádico no filme de Tarantino. Um dos golpes que ele ensina à noiva pode parecer algo de outro mundo, mas era usado por Bruce Lee na vida real em demonstrações de artes marciais. Bruce não atravessava um bloco de madeira como Pai Mei, mas conseguia derrubar uma pessoa com o movimento.  


A doçura e sutileza de Pai Mei
Já a personagem de Lucy Liu foi a inspiração estética de da atriz Meiko Kaji, no filme ''Lady Snoowblood'', de 1973 (que aliás originou-se de um mangá, falarei sobre isso em breve) em especial na luta final contra a noiva na neve. O filme em questão também assemelha-se a cena em que os vilões olham de cima pra baixo para a vítima.

Lady Snoowblood
Melhor criador de espadas da atualidade em "Kill Bill", Hattori Hanzo é interpretado no longa por Sonny Chiba, uma lenda do cinema asiático de artes marciais. O novo Hanzo seria parente distante do Hattori Hanzo real do século 17, guerreiro histórico que foi vivido por Chiba na série de TV "Shadow Warriors"
E o que falar do clássico mangá "Sukeban Deka"? Você já leu? Esse mangá virou série e filme no Japão, também falarei mais em breve. Nele os personagens são conhecidos por usar armas esdrúxulas como ioiôs, bolas de gude e correntes. Sua principal referência no filme é a colegial guerreira interpretada pela atriz Chiaki Kuriyama, que luta com uma corrente nada amigável. "Kill Bill" também faz referência a outro filme da atriz, "Battle Royale", de 1999, quando esfaqueia um homem depois de perguntar se ele quer fazer sexo com ela. A morte da personagem de própria Chiaki Kuriyama, foi inspirada no filme "Pavor na Cidade dos Zumbis", filme italiano de 1980. Ou seja, uma homanegem dentro da inspiração.


Sukeban Deka: do mangá para o cinema
Muita coisa, certo? Ainda tem mais.
Amante dos animes, Tarantino contratou o estúdio responsável por um dos maiores clássicos do gênero, "Ghost in the Shell", (filme lançado em 1995) para a animação que mostra a história de O-Ren Ishii (Lucy Liu). "Ghost" também trata de uma órfã que se torna uma assassina.
Outro detalhe é a flauta usada por David Carradine, o Billm criada pelo próprio ator e que aparece no filme "Circle of Iron", de 1978, longa de fantasia e artes marciais. Carradine também usava suas flautas na série de TV "Kung Fu"

Como vimos, ''Kill Bill'' é praticamente um ''empréstimo'' de Quentin Tarantino ao cinema e a cultura japonesa.
Em 2007 ele participou do filme ''Sukiyaki Western Django'', dirigido pelo seu ídolo, o cineasta japonês Takashi Miike. Tarantino interpreta o personagem Piringo, papel semelhante ao que Clint Eastwood fazia em seus filmes de ''bang bang'' italiano. ''Sempre gostei muito de cinema japonês e sempre foi meu desejo trabalhar em em um filme japonês da própria indústria japonesa'', disse o diretor. O filme é uma refilmagem de ''Django'', de 1966, clássico faroeste italiano.


Cena do filme Sukiyaki Western Django
Mais informações sobre o filme aqui:
''Sukiyaki Western Django''
Na época de gravação do filme, Quentin disse o seguinte: ''Eu me diverti tanto e me senti tão inspirado pelo processo todo que estou pensando em criar um 
trabalho 'companheiro' deste filme''. Dito e feito: quatro anos depois estreou nos cinemas o filme ''Django Livre'', adaptação do mesmo ''Django'', do diretor Sergio Corbucci. 

Sua relação com o oriente é tão forte que em 2009 estrelou um comercial da marca japonesa Softbank Mobile.

A propaganda é bobinha, mas vale conferir:
Softbank com Quentin Tarantino


Ainda está em aberto o próximo projeto do diretor, então é aguardar para ver se renderá mais alguma boa homenagem à cultura japonesa. Se acontecer, estarei de olho.

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